28 de novembro de 2012

Sobre como o segundo sexo e sua nudez ainda podem chocar

  Expostos no ato de aleitamento, seios não incomodam. Ora, mesmo para a mente mais conservadora, o que se vê são as glândulas mamárias cumprindo com sua função natural. Além disso, como a maternidade é algo biblicamente sagrado, a cena ganha uma aura poética, até. 
 
         Aos olhos masculinos e heterossexuais, peitos gratuitamente desnudados em sequências cinematográficas ou revistas sensuais também não são uma visão importuna. Pelo contrário, são muito apreciados. Prova disso são comentários nos bate-papos com amigos em mesas de bar ou em sites de discussão. 

          Mas “ai” da mulher que praticar o topless como protesto. Nessa infeliz Geni que substituir a ação de queimar sutiãs pela ausência total da vestimenta serão jogadas críticas ácidas, adjetivos sujos. Sem zepelins para sua redenção! Um exemplo são as manifestantes do Femen, movimento ucraniano que utiliza a exposição dos seios para fazer oposição ao pensamento patriarcal, ao preconceito religioso e à exploração sexual. 

         Recentemente na Paris da feminista Simone de Beauvoir, essas representantes eslavas do segundo sexo ofereceram às colegas francesas um treinamento para a arte do protesto nu, e foram alvo de questionamento. Ouviram da mídia, logicamente, as velhas perguntas repetitivas sobre uma suposta incoerência de se usar a nudez como manifestação contra a exploração sexual. 

          Sem dúvida, o movimento apela para o choque para atrair atenção para suas reivindicações, muitas vezes pintadas sobre a pele. Afinal, o nu chama atenção, ainda gera publicidade, é quase um grito. 

           Aliás, é assustador que em pleno século 21, às margens de um hipotético apocalipse maia, o nu feminino voluntário tenha o poder de ofender. Principalmente quando a imagem do corpo de mulheres usado como aperitivo no entretenimento seja tão comum. Não, mulher, é muito mais indecente se dizer: “Esse é meu corpo, eu o domino, posso expô-lo e ninguém está livre para me estuprar ou tocar por isso”.

          Essa é a provável razão para as meninas de grupos como o Femen e suas primas da Marcha das Vadias usarem seu físico despido como arma: a liberdade de tirar a roupa para uma situação não sexual, não reprodutiva, não maternal, não comercial é uma ameaça ao conforto machista. E em situações confortáveis, ninguém se autoquestiona.

[Crônica produzida para a aula de Ténicas de Redação: Jornalismo Opinativo, em 27 de novembro de 2012.] 

Nenhum comentário:

Postar um comentário