19 de outubro de 2012

Da mansão mal assombrada para o asilo de loucos

Um par de recém-casados explora o prédio abandonado, seus planos são passar as noites da lua-de-mel em 12 lugares considerados mal assombrados. Quem costuma assistir filmes do subgênero slasher e conhece seus clichês consegue imaginar um desfecho brutal para o passeio – afinal, o terror raramente deixa impunes casais atraentes envolvidos em atividades sexuais. A impressão é intensificada quando o local é introduzido como Briarcliff, antiga casa de repouso para tuberculosos (onde mais de 46 mil pessoas morreram) e, posteriormente, uma instituição mental que abrigou um serial-killer apelidado de Bloody Face.



Protagonizadas por Adam Levine (vocalista da banda Maroon 5) e Jenna Dewan, as rápidas cenas servem como introdução à mitologia do hospício e à trama principal de “American Horror Story: Asylum”. O coração da segunda temporada da série de Ryan Murphy e Brad Falchuk reside no período em que o asilo fictício vivia seu auge, durante o ano de 1964. E como é típico das criações da dupla (como Nip/Tuck), a presença do bizarro, do mistério e do drama psicossexual são as engrenagens do enredo.

Uma demonstração de situações chocantes são experiências de tortura vividas pelos pacientes de Briarcliff, instituição sob a administração conflituosa da católica tradicionalista Irmã Jude (Jessica Lange) e do médico Arthur Arden (James Cromwell), um cientista com complexo de Doutor Frankenstein. Rivais de visão oposta sobre o papel da religião e da ciência no tratamento dos pacientes, ambos exibem doses semelhantes de sadismo e escondem manchas do passado. Jude talvez não tenha sido sempre tão casta quando tenta demonstrar, enquanto que o médico pode ter raízes nazistas.

Entre os internos, suas vítimas, estão Kit Walker (Evan Peters) e Lana Winters (Sarah Paulson). Ela é internada como alvode uma armação, após tentar investigar os segredos do local para uma reportagem. Já ele é um jovem acusado de ser a verdadeira identidade do Bloody Face. Quando o homicídio de sua própria esposa é atribuído a si mesmo, que tenta se inocentar com a afirmação de que foi abduzido. Mas seria seu álibi real ou um sintoma de esquizofrenia?

A possível presença de alienígenas, aliás, combina a ambientação temporal, pois foi nos anos 60 que passaram a se disseminar depoimentos de supostas abduções. Neste ano, os fantasmas dão lugar também a criaturas mutantes, humanos utilizados por Dr. Arden em suas experiências.

Briarcliff
A questão central da história agora é a separação entre alucinações e realidade. Enquanto que na história ambientada na “Casa Macabra” o espectador passava boa parte do tempo se perguntando qual personagem era vivo, qual era fantasma, no caso de Briarcliff, a dificuldade é distinguir as pessoas sãs das insanas.

Se a primeira parte da antologia de estórias de terror tinha como componente a abordagem dos medos atuais americanos, os episódios da segunda passeiam pelos conflitos dos EUA da década de 60, a exemplo do racismo e da homofobia. Até mesmo o estilo de edição e fotografia do seriado se transformou no segundo ano.

Segundo Murphy, a primeira temporada tinha como inspiração o estilo de cineastas como Stanley Kubrick, já a cinegrafia da atual imita a direção de Brian de Palma (principalmente, no seu trabalho em “Carrie, a Estranha” e “Vestida para Marcar”). Cinéfilos podem se divertir caçando as pequenas homenagens a clássicos do cinema: só no primeiro episódio é possível reconhecer referências a títulos como “O Silêncio dos Inocentes” e “Laranja Mecânica”. Com sua prática confeccionar máscaras com a pele de suas vítimas, assassino poderia ter um parentesco com o Leatherface de “O Massacre da Serra Elétrica”.

Como não há qualquer conexão entre as histórias das duas temporárias, elementos como esse pastiche de cinema, a exploração dos horrores reais e sobrenaturais e o “reprise” de atores cimentam a uniformidade de “American Horror Story”.
Evan Peters como Kit Walker

Parte do elenco da primeira temporada participa da atual como personagens diferentes. Além de Lange (premiada com um Emmy e um Globo de Ouro por sua interpretação de Constance), Peters (projetado no ano passado como o perturbado Tate) e Paulson (a médium Billie Dean), regressam nomes como Zachary Quinto, Lily Rabe e Frances Conroy. Entre os acréscimos estão Joseph Fiennes, como o Monsenhor Timothy O’Hara (religiosamente cultuado e sexualmente cobiçado por Irmã Jude), Lizzie Brocheré, como a única aliada de Kit, Grace, Chloë Sevigny, como a interna ninfomaníaca Shelly.

[O primeiro episódio da segunda temporada de “American Horror Story” foi exibido nos EUA pela FX, no dia 17 de outubro. No Brasil, a nova etapa da série estreia em 30 de outubro, na Fox.]