22 de junho de 2012

Diários sem censura das meninas da esquina


Entre setembro de 2003 e outubro de 2004, Natasha, Britney, Milena, Yasmin, Vitória e Diana atualizaram seus diários. Como adolescentes comuns, retrataram conflitos familiares e revelaram ambições, desabafam sobre romances infelizes, mas ao contrários dos usuais registros  juvenis, as confissões das seis garotas são entremeadas por histórias sobre prostituição e drogas.

Sem retocar as narrativas, a jornalista Eliane Trindade as agrupou no livro "As Meninas da Esquina", publicado em 2005. Com idade de entre 14 e 20 anos, as adolescentes expõem sua relação com o mercado sexual infanto-juvenil.

Enquanto recolhia informações para uma reportagem a respeito do tema, a ex-editora de Reportagem da revista Marie Claire percebeu que meia dúzia de páginas seriam pouco para retratar a realidade das entrevistadas, jovens vinculadas a ONGs de proteção. Por isso, decidiu reproduzir um livro-reportagem.

Ao transferir para as próprias protagonistas a tarefa de narrar suas histórias, a jornalista evita a tentação de romancear sua condição de vítimas. Pelo contrário, as entradas dos diários são francas e pessoais, pintadas pela linguagem cotidiana, como uma transpiração do ambiente em que vivem. A única censura é a ocultação de suas identidades através do uso de nomes fictícios, para garantir segurança às seis.

Todas elas, em frequência diferente, praticaram o comércio, ou escambo, do sexo. Muitos de seus clientes são idosos, e em um caso específico, o aliciador é o próprio tio. Envolvimento com tráfico e consumo de drogas, pequenas infrações, abuso sexual, relacionamento conturbado com a família, e iniciação sexual precoce são elementos recorrentes em grande parte dos diários. Porém, não são os únicos. Todas elas abordam seus amores, suas lutas, suas diversões e, no caso de três delas, a relação com os filhos.

Os relatos são complementados por análises de trechos de seus diários por Eliane, com comentários de estudiosos e membros de entidades. Natasha, Britney, Milena, Yasmin, Vitória e Diana são representantes de uma triste realidade comum a cidades de todas as regiões do país.

De acordo com informações complementares do livro, a exploração sexual de meninas está presente em 937 dos 5.551 municípios do país, como um produto da pobreza, das fragilidades da Educação e da Justiça e até da visão difundida pela mídia da mulher como simples objeto.